Opinião – O que é essa tal de Inflação, e por que parece que o governo está mentindo para mim? – por Rik Daniel*

Mário Flávio - 27.12.2023 às 17:10h

No cenário contemporâneo, é frequente deparar-se com opiniões céticas acerca dos índices de inflação oficialmente divulgados, tanto na esfera virtual quanto no mundo “real”. Muitos questionam a veracidade dos números apresentados, destacando a aparente discrepância entre os dados e as experiências individuais: “A inflação deste mês apresentada no jornal foi negativa, mas os gastos com a feira aumentaram”.

Essa desconfiança, por mais legítima que pareça, decorre da interpretação distinta que governo e cidadãos têm do índice. Antes de explorar essa disparidade, é necessário compreender o próprio conceito do IPCA. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo é um indicador econômico que reflete a variação média dos preços de uma cesta diversificada de bens e serviços consumidos pelas famílias brasileiras.

Nesse contexto, é relevante destacar que o IPCA abrange famílias com renda variando entre 1 e 40 salários mínimos. O IPCA é calculado pelo IBGE, órgão oficial da União responsável por estatísticas.

O IPCA, conforme mencionado, é composto de diversos núcleos, são eles: Alimentação e Bebidas, Habitação, Artigos de Residência, Vestuário, Transportes, Saúde e Cuidados Pessoais, Despesas Pessoais, Educação e, por fim, Comunicação. Cada núcleo possui um peso específico no índice, sendo que Alimentação e Transportes carregam os maiores pesos, com 21,86% e 20,43%, respectivamente. Os demais setores possuem os seguintes pesos: Habitação (15,26%), Saúde e Cuidados Pessoais (13,05%), Despesas Pessoais (10,06%), Educação (5,64%) e Comunicação (4,87%), Vestuário (4,84%) e Artigos de Residência (3,93%).

Cada um dos setores acima citados agrega uma série de itens, cada qual com uma relevância própria. Para ilustrar, o setor de alimentos é subdividido em Alimentos no Domicílio e Alimentação fora do Domicílio. O primeiro, notadamente, influencia substancialmente o orçamento das famílias mais pobres, englobando cerca de 159 itens, desde elementos básicos como sal de cozinha até itens mais sofisticados, a exemplo da picanha. Cada item é ponderado e a variação mensal é calculada, formando a base para a variação mensal do índice central.

Nesse ponto, é natural questionar: por que a cesta é composta por tantos produtos quando, na prática, não os adquirimos todos? A resposta repousa na necessidade do governo de ter um panorama abrangente dos preços na economia. Essa agregação de produtos e serviços diversificados possibilita a obtenção de uma visão mais completa dos preços pelos agentes econômicos internos (Empresas) e externos (investidores internacionais e órgãos internacionais).

Para ter uma visão mais próxima da realidade das famílias, faz-se necessário que cada entidade familiar calcule o seu próprio índice de preços, uma vez que ela não consome todos os itens da lista de produtos que compõe a cesta deste índice.

Em resumo, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) assume um papel fundamental na avaliação da inflação no Brasil, refletindo a oscilação média dos preços de uma variedade de bens e serviços consumidos pelas famílias. Apesar da aparente distância entre o IPCA e as experiências individuais, sua abrangência pretende capturar as tendências de preços em múltiplos setores da economia. A inclusão de uma gama diversificada de itens, cada qual com seu peso específico, tem como alvo oferecer um panorama completo das variações de preços, permitindo que tanto o governo quanto organismos internacionais e investidores avaliem precisamente o estado do índice de preços no país.

*Rik Daniel é Bacharel em Sistemas de Informação e Bacharel em Ciências Econômicas.