Opinião – Os donos do Poder – por Mário Benning*

Mário Flávio - 05.04.2014 às 14:58h

Uma das passagens bíblicas mais bonitas encontra-se no Genesis, quando no início da criação, o espírito de Deus pairava sobre a água e diz: Fiat Lux! Faça-se a luz, e do nada, da obscuridade, surge à luz. Porém no Brasil a criação a partir do nada, não é mais prerrogativa divina, foi também incorporada ao cotidiano político. Quando governantes se apoderam do poder da criação e tais quais pequenos deuses gritam Fiat Lux, mas ao invés do surgimento da luz temos o aparecimento de postes na vida pública.

Essa moda é um recurso que vem sendo usado com bastante frequência nos mais diversos partidos políticos, com a indicação de verdadeiros desconhecidos a cargos majoritários. Para justificar essas escolhas de pessoas desvinculadas da política, elaborou-se o discurso do técnico. Alguém que não era político profissional e que não se renderia aos conchavos, fisiologismo e teria uma gestão pautada pela: economicidade, a eficiência, colocando o bem comum como meta. Estando, portanto acima do dia a dia da política rasteira.
Tal receita de sucesso foi seguida a risca pelo país: Maluf com Pitta, Aécio com Anastasia, João Paulo e João da Costa, Lula ao escolher Dilma, e Eduardo Campos, com Geraldo Júlio em 2012.

E agora com Paulo Câmara, ao ser escolhido como candidato do PSB à sucessão de Eduardo Campos. Para o grande público foi vendida a versão que o escolhido representaria a renovação do cenário político pernambucano, possuidor de uma grande capacidade administrativa e de dar continuidade ao “sucesso” da gestão de Eduardo Campos. O afastamento de João Lyra e Fernando Bezerra Coelho do páreo foi justificado, pela dificuldade de ambos encarnarem o movimento da nova política, já que seriam figurinhas carimbadas, veteranos.

O problema é que essa versão não se sustenta, afinal se as decisões do PSB fossem pautadas por pesquisas eleitorais ou ideologias políticas, o candidato a presidente pelo partido deveria ser Marina Silva e não Eduardo Campos. Afinal, ninguém mais do que ela encarna melhor as pautas da sustentabilidade, da renovação política e do compromisso social. Como também, possui índices de intenção de voto superiores ao de Eduardo.

Além do que Eduardo Campos é o herdeiro de uma dinastia política, um político profissional que vem fazendo alianças com várias raposas políticas, inclusive as que fizeram oposição radical ao terceiro governo do seu avô. O que destoa veementemente da chamada nova política, seja lá o que isso for. Talvez nenhum governador tenha, no momento, uma situação tão confortável como Eduardo Campos, para indicar o seu sucessor. Afinal o mesmo por não contar com uma oposição efetiva no estado nos últimos anos e investir maciçamente em publicidade, construiu no imaginário pernambucano o mito de uma gestão revolucionaria. Alcançando assim elevadas taxas de aprovação popular. Cooptou lideranças políticas por todo o estado, empregando-os como assessores, para que garantam que seus redutos eleitorais votem maciçamente em seu ungido.

Além disso, é bem provável que a sua candidatura presidencial tenho no estado o mesmo efeito que a de Ciro Gomes teve no Ceará. Ele será majoritário em Pernambuco a presidente, como consequência do sentimento de pernambucanidade, e dará uma votação maciça ao candidato do PSB a governador, um verdadeiro andor. Assim independente do nome, qualquer candidato do PSB estará praticamente eleito. Então por que Paulo Câmara, um desconhecido total?

Na realidade o que Eduardo quer, é o mesmo que todos que utilizaram desse recurso queriam. Manter o controle da máquina pública e preservar patrimônio eleitoral, sua grife. Através de candidatos pouco expressivos e que não irão questionar a sua influência ao sentarem na cadeira e assumirem a caneta. Mantendo vivos assim tanto o seu legado quanto ao sua influência. Na realidade ele continuará a ser a sombra por trás do trono.
Para Eduardo essa situação é indispensável, pois se sua candidatura presidencial não decolar, ele não terá nenhuma plataforma que lhe de visibilidade a partir de 2015. Porém mantendo o controle estreito da Prefeitura do Recife e do Governo do Estado, ele sobreviverá politicamente até 2018. Será sua rede de segurança nessa manobra política arriscada, se a candidatura presidencial naufragar.