Opinião – “Quando penso em revolução, quero fazer amor!” Viva a Consciência Negra! – por Marcelo Diniz*

Mário Flávio - 20.11.2012 às 07:55h

É chegado mais um Dia da Consciência Negra e com isso, voltam à agenda política discussões como racismo, cotas, intolerância religiosa, etc.

Em pleno Século XXI, por incrível que pareça, ainda há os que defendem a posição de que não existe racismo no Brasil. Ignora-se que os salários pagos aos negros equivalem em média, à metade daqueles que são pagos aos trabalhadores identificados com a etnia branca. Se for mulher e negra, a situação fica ainda pior.

Ignora-se que a abolição da escravatura por si só, não garantiu a inclusão da população negra enquanto detentora de direitos amplamente falando, já que não aconteceu uma necessária reforma agrária que lhes incluísse no sistema produtivo em igualdade de condições, nem houve qualquer política de reeducação da população, nem políticas de habitação ou em qualquer outra área da administração pública no sentido de amparar-lhes. Foi essa escassez inicial de políticas de atendimento às demandas específicas que gerou a situação que vivemos hoje, onde a maioria de nossa população afrodescendente é pobre e grande parte não se identifica como tal, perpetuando e reforçando em muitos casos, o preconceito presente em discursos como o mito de que somos uma sociedade onde o tratamento étnico racial é cordial, ou que políticas compensatórias são privilégios, ou ainda, “racismo às avessas”.

As cotas raciais, por exemplo, que foram aprovadas dentro da cota para oriundos de escolas públicas, nada mais são do que o reconhecimento dessa situação pelo Estado brasileiro: As populações historicamente discriminadas por sua herança étnico-racial têm dificuldade em acessar os cursos mais “valorizados” nas Universidades, muito embora alcancem o nível de conhecimento necessário para freqüentar os cursos, porque passam a vida convivendo com as dificuldades de uma escola pública discriminatória, defasada, carente de investimento e de projeto político pedagógico. É importante que se destaque que a cota racial será limitada à proporção étnico-racial da população de cada estado e que esses estudantes alcançam a pontuação necessária à aprovação no vestibular, portanto, não há (como gostam de defender os conservadores) “perda de qualidade” na Universidade pública.

Nas políticas de Saúde, é preciso avançar na divulgação de ações voltadas ao combate à anemia falciforme, já que por conta de nossa herança genética, pode atingir enorme parte da população brasileira (há quem fale em cerca de 90%). O único tratamento conhecido para a doença é o transplante de medula óssea, com mais sucesso entre pacientes pediátricos.
É preciso vencer a intolerância e o preconceito religioso, tratando com igualdade as instituições religiosas de matriz africana, do ponto de vista fiscal, cultural, educacional, etc. Outras instituições religiosas recebem há séculos o incentivo do Estado para a realização de atividades, enquanto os terreiros são obrigados a contar somente com iniciativas pontuais de um ou outro agente público mais compromissado.

É preciso tornar práticos os preceitos contidos no Estatuto da Igualdade Racial!

Por fim, embora pareça menos importante, existe algo que me incomoda enormemente: A perpetuação do preconceito presente em conceitos cotidianos e repassados pela mídia e por educadores menos atentos. Causa-me imensa dor e revolta escutar um professor dizendo “denegrir”, “sinistro”, “mulato”, “aluno”, assim como ver publicarem termos como esses em veículos de comunicação.

Diferente do que pensam alguns dos que criticaram meu último texto sobre essa questão, não sou dos que defendem a posição de qualquer grupo social que defendo como “coitadinhos” e nem sou adepto do “mimimi”, nossa tradição nunca foi essa, foi sim, a de lutar pelo que acreditamos, de construir nossos sonhos e de empunhar as armas necessárias à toda e qualquer forma de opressão. Nós utilizamos a inteligência ao fazer do sincretismo uma forma de executar os rituais religiosos e ao transformar a capoeira em dança, ensinando nossos iguais a defenderem-se! Nós utilizamos a força ao construir nossos quilombos e resistir à Ditadura Militar. Nós utilizamos a propaganda ao queimar sutiãs em praça pública para denunciar o machismo e ao pintar a cara pra derrubar o presidente mais corrupto de que se tem notícia no Brasil, até hoje! Negros, mulheres, LGBT’s, pobres e todos os que lutamos contra a opressão, sabemos de nossa capacidade em mudar a ordem das coisas. O que alguns não entendem é que nossa luta não é contra pessoas, mas contra ideias ultrapassadas que insistem em resistir à corrosão do tempo.

“Quando penso em revolução, quero fazer Amor”, quero fazer um mundo de amor, de igualdade, de respeito! E sei que essa tarefa só pode ser cumprida em coletivo, por isso escrevo e por isso me organizo. Deixem de lado a sua megalomania egocêntrica em achar que escrevo para afrontá-los. Escrevo para convencê-los, para convidá-los a pensar diferente e a construir esse mundo novo, com muito Axé!

*Marcelo Serra Diniz é militante da Juventude do PT, Ex-Secretário da União dos Estudantes de Pernambuco (UEP – Candido Pinto), Ex-Diretor de Relações Internacionais da União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (Ubes) e delegado do Orçamento Participativo de Juventude de Caruaru. Participou da Coordenação da Marcha Zumbi +10 em Pernambuco e da formação da Articulação Negra de Pernambuco e foi delegado da temática no Orçamento Participativo de Recife.