Opinião – Quem são os matutos? – por Tiê Félix*

Mário Flávio - 05.12.2014 às 19:03h

Não se assuste com a violência e com a ignorância coletiva que vigora em nossa cidade. Ela resulta do fato de que desde sempre foi assim, e assim é que os “podres poderes” se mantém acima de nós. OS matutos, termo pejorativo atualmente, são aqueles que não saber sequer se comportar, não dimensionam a menor qualidade em termos mínimos de comportamento. Estamos cercados por uma legião de pessoas que hoje ascenderam socialmente por incentivos governamentais, mas não possuem o mínimo de ética e educação.

A escola é apenas a formadora de mão de obra, não de pessoas, de humanos. O humanismo no Brasil de hoje, sobretudo nas regiões atrasadas como no Nordeste, é apenas adereço retórico, como sempre foi na boca de políticos e intelectuais. Para a ignorância coletiva de que serve uma placa de transito, um sinal vermelho? Passaremos, dizem os mais desenrolados! Ser desenrolado em nossa sociedade é sinal de inteligência. A mesma inteligência que vez ou outra faz vítimas fatais no transito, quando não matam inocentes.

Num país em que todas as regras são burladas ironicamente, para que serve dizer que fazer isso ou aquilo é errado? Qual seria o papel do agente de transito, do professor, do policial? Não se sabe bem.Aqui a polícia faz de conta, a Destra também e as escolas idem, etc. O público brasileiro é uma encenação! Os nossos políticos não querem educar, eles mesmos nem sequer sabem o que é isso. Quantos não usam de sua “autoridade” de forma autoritária. Isso é deseducação. Nossos políticos definitivamente não são democráticos. Maior prova disso são os desvios de verbas. Pensam eles: “deixemos os matutos do jeito que estão mesmo!”

Repetidamente vemos os mais absurdos casos de ignorância das mais cruéis tomando o controle da nossa sociedade. O que se espera da população? Da que conhecemos nada. Não concebem nem sequer o que é um ser vivo, como no caso da feira de gado. Eles são assim mesmo, cruéis, insensíveis com todos não só com os animais que vão para o abate. Talvez tenha sido a excessiva ausência de tudo que os fizeram assim.

O que são esses cidadãos que não conseguem manter lixeiras e pontos de ônibus intactos? São animais? Como compreendê-los? Somente de uma forma: somos mesmo atrasados e mesmo os defensores da cultura matuta devem se submeter a ideia de que estamos longe do mínimo para a construção do comum. As pessoas costumam atribuir todas as suas desilusões aos políticos e aos que tomam decisões. É justo que seja assim, desde que essas mesmas pessoas tenham o mínimo de consciência do que devem fazer.

Se você Parar por um momento numa dessas feiras, numa dessas aglomerações coletivas e fazer o papel de Sócrates perguntando o que é ser cidadão, tenho certeza que a grande maioria nem sequer saberá dar uma definição básica do que seria isso. A maioria é incapaz de sintetizar o que pensa. Reflexo da valorização da ignorância onde vivemos. Argumentar é falta de educação e excesso de autoconfiança numa sociedade de fracassos.

A culpa não é deles, é da cultura que estão inseridos. Foram acostumados a viver sem informação, sem conhecimento, sem nunca terem lido nada. Acham que conhecimento só serve para dar-lhes emprego, quando na realidade o conhecimento dignifica o homem. O conhecimento entre nós é adereço, é apenas uma forma de aparecer. Mesmo os intelectuais da nossa cultura são meros palradores cansativos. Porque são assim? Porque mesmo o conhecimento entre nós é artigo pessoal, sendo utilizado como forma de autoafirmação.

Não faz sentido falar em respeito quando falta educação. O que dizer acerca da violência numa sociedade que não sabe o que é respeito? O que dizer acerca das regras comuns a um povo acostumado a corrupção e favorável a tais práticas? Se é possível dar um jeito em nossa sociedade obviamente isso não será de uma hora para outra. Mas o que se vê hoje é o cumulo da ignorância tomando a dianteira das relações sociais cotidianas. Não há mais o mínimo de respeito pelo sujeito; onde vivemos o ser humano é extremamente desvalorizado, excetuando-se aqueles que dominam, esses são respeitados pelo “matuto” se brincar sendo até mesmo chamado de “senhor” e de “doutor”.

*Tiê Felix é professor e pós graduado em História do Brasil pela FAFICA. E-mail:tiefelix7@gmail.com