As chances de Marina vir a ser a nova presidenta do país são reais. Pesquisas indicam que o embate vai ser forte fazendo desta provavelmente a eleição mais emblemática e disputada que já vi. Como entender além do clima emocional com a morte do ex-governador como ela está conseguindo manter-se bem nesta disputa?
Podemos começar observando suas origens. Professora de história e sindicalista, militou no movimento estudantil na Universidade Federal do Acre. Depois veio às Comunidades Eclesiais de Base, os movimentos sociais urbanos de Rio Branco, a participação na criação da CUT e do PT no Acre e a luta ao lado de Chico Mendes pelos Seringueiros.
Após o assassinato de Chico, vem o discurso da sustentabilidade, somando-se as organizações de esquerda do Acre ao lado da antropóloga Mary Allegretti, (Conselho Nacional dos Seringueiros), e Steve Schwartzman, antropólogo norte-americano, ligado à ONG Environmental Defense Fund (EDF). Daí veio uma projeção internacional da imagem de Chico Mendes (a partir de sua famosa viagem a Washington para denunciar os impactos das obras da BR 364 ao Banco Mundial).
O grupo na base do Acre trabalhou a figura de Jorge Viana (PT) com origens e ligações com a direita conservadora e ele por sua vez conseguiu ajudar a eleger Marina ao Senado em 1994. Em 1998 é formada a Frente Popular no governo do Acre (aliança entre 12 partidos, entre eles o PSDB), e eleito Tião Viana, irmão de Jorge, para o Senado. Já no início de 2000 madeireiros, pecuaristas e petistas chegavam a acordos, agregando parte da antiga esquerda e a direita do Acre. Sem uma aparente ruptura ao projeto anterior.
Mantendo esta linha ela foi reeleita senadora em 2002 (Jorge Viana reeleito governador) e, em 2003, assume o Ministério do Meio Ambiente de Lula. Os Marineiros vão se reforçando com um pessoal que a acompanha desde o Acre, em seu mandato a senadora, outros políticos desgarrados de seus partidos e permanecem até 2010 quando se candidatou. Daí por diante iniciou-se um ciclo que foi por muitos chamado de “capitalismo verde” e a REDE em construção optará por um novo tipo de política quando laços tão fortes a unem à velha forma oligárquica de governar.
Daí em diante uma série de fatores foi distanciando Marina de sua base na Amazônia e fragilizando seu grupo na gestão petista, até culminar com seu isolamento e depois saída do partido. Veio o PV, foi se direcionando para oposição a Lula e Dilma, marqueteiros e empresários se aproximaram e investiram nela. E surge uma Marina Silva renovada e com vigor nas urnas e certa simpatia da mídia. Em fevereiro, mais precisamente no dia 16, Marina criou publica e oficialmente a REDE, já “lançada” desde o final de 2012. A Rede Sustentabilidade, é seu partido ainda em construção, em seus quadros Guilherme Leal e Maria Alice Setúbal, apoiadores da campanha eleitoral de Marina à presidência da república em 2010.
A Rede Sustentabilidade é formada como um movimento aberto, autônomo e suprapartidário que reúne brasileiros decididos a reinventar o futuro do país. Uma associação de cidadãos e cidadãs dispostos a contribuir de forma voluntária e colaborativa para aprofundar a democracia no Brasil e superar o monopólio partidário da representação política institucional, utilizando as mais diversas ferramentas da internet para expandi-la.nPassa a abrigar candidaturas de cidadãos que não façam parte de seus quadros, mas que compartilhem de seus ideais, comprometida com a transparência de seus processos internos e empenhada na renovação de suas lideranças.
COMPLEXIDADES DA REDE – A rede de Marina é mais complexa do que pode parecer à primeira vista. É menos sustentável do que quer fazer crer o “ambientalismo de mercado” promovido por seus integrantes. A Rede Sustentabilidade, a medida que vai se desenvolvendo, vai projetando e fazendo crescer a imagem de Marina enquanto atropela sonhos e projetos de outros. O recente depoimento da filha de Chico Mendes apoiando Dilma mostra que aquele Chico Mendes já não faz parte de seu programa como antes, levando a candidata a se distanciar cada vez mais de suas origens.
Por sua vez, a Rede não conseguiu se institucionalizar também por conta da burocracia eleitoral brasileira. Afirmam que conseguiram 870 mil assinaturas. Mas, por critérios de uma validação prévia, 660 mil assinaturas foram enviadas para os cartórios. Enviaram assinaturas de apoio para mais de 1.800 cartórios, em todas as unidades da federação. Já tendo a quantidade mínima exigida em 26 unidades da federação. Com mais de 550 mil assinaturas encaminhadas aos cartórios até o dia 15 de julho do ano passado. E mais de 640 mil assinaturas haviam sido encaminhadas aos cartórios até o dia 1º de agosto, mas com um atraso na análise das assinaturas em mais de 50% dos cartórios.
Assim ela não consegue criar oficialmente o partido. Depois de um tempo analisando o cenário decide aceitar o convite de Eduardo para migrar para o PSB e compor sua chapa como vice e depois do trágico acidente enfim, encabeça a disputa.
REDE OU PSB? Atualmente existem 104 políticos da Rede que se filiaram em outros 12 partidos, das mais diversas linhas ideológicas para viabilizar a disputa por um cargo. Destes, 71 se filiaram ao PSB, os outros como PSOL, PTN, PRB, PRP, PROS, Solidariedade, PHS, PDT, PEN, PV e PPS. Outros números indicam que além da candidata a presidente, tem 01 candidato a vice-governador, 04 disputam para o Senado, 37 para Câmara dos Deputados, e 57 para as assembleias legislativas.
Outras perguntas ficarão sem respostas em curto prazo: Marina vai institucionalizar a REDE ou fortalecer o PSB com seus quadros? Se chegasse ao Executivo como governaria sem todos os partidos de oposição e sem uma parcela expressiva do PMDB? Como que sustentação social ela conseguiria governar? Nos próximos dias as urnas revelarão se ela chega este ano ou ainda não. Parece ainda não existir um projeto que seja superior ao que se apresenta hoje pelo PT e que anda desgastado e desacreditado. Que Deus nos ajude, enquanto nação, a superar historicamente os vícios da “velha política” representada pelo autoritarismo tanto da direita quanto da esquerda, que não conseguem oferecer uma perspectiva clara de um futuro realmente promissor para toda sociedade brasileira.
*Paulo Nailson escreve semanalmente no blog Política de AaZ. No Jornal de Caruaru tem a coluna Cultura e Cidadania e é responsável pelo blog presentiaonline. Atua na Cultura e no meio político.