A decisão do IPHAN sobre a estação ferroviária está sendo apresentada num contexto muito menor. É terrível que os comerciantes e artistas percam seu espaço agora, mas também é terrível que há vários anos todo o pátio ferroviário seja ocupado de forma inadequada com danos contantes ao patrimônio, sem a PMC assumir um programa de conservação e definir regras claras para uso e ocupação espaço.
Há alguns pontos a serem tratados como a sessão de uma área que não é da prefeitura, ou seja não há segurança legal para permanência dos comerciantes e artistas que ocupam a área. Os bens da extinta RFFSA são da União, e a Secretaria do Patrimônio da União é quem administra estes bens. Há algum convênio entre Secretaria do Patrimônio da União e PMC para que esta possa ceder a área? Quais seriam os compromissos que a PMC deveria assumir com o IPHAN para usar e ceder a área?
Há também um processo no Ministério Público Federal sobre os danos realizados a Estação e ao Pátio Ferroviário em diversas gestões da PMC, será que esta decisão do IPHAN hoje não faz parte de algo que ocorre há bem mais tempo e agora explodiu?
Quando passo pela estação percebo infiltrações há bastante tempo sem ninguém cuidar disto. Ocupamos a área de forma improvisada e com materiais inflamáveis.
O projeto do BRT utilizará a linha férrea, alguém já viu o projeto e sabe como vai afetar a Estação? Com este corredor de ônibus vai ter espaço para os bares e artistas? Existe um processo de discussão com a sociedade de como este projeto afetará as atividades no local?
Visito um dos bares na área e sou um grande admirador da cultura local. Acredito que os artistas e os comerciantes devem permanecer lá, mas se for da forma como está o patrimônio vai se deteriorando pedacinho a pedacinho e nem vamos perceber. A cada dia este local irá perder a qualidade, os artistas e os bares terão que se mudar, perdendo este espaço no coração da cidade.
Chega de improvisos, ou se assume a cultura por inteiro ou não conseguiremos qualidade nem para os artistas nem para o local.
Agora no calor da questão fica difícil perceber uma dimensão além da imediata possibilidade das perdas dos artistas e comerciantes, e é claro que isto é terrível. Mas para reverter este processo é preciso entender estas outras dimensões do problema.