Opinião – Sobre aumentos na Câmara de Vereadores, Movimento Despolitizado e a Banalidade do Mal – por Ana Maria de Barros*

Mário Flávio - 20.12.2012 às 08:55h

Caros amigos, não poderia deixar de me posicionar como sempre faço, pois em conjunto com estudantes, professores e algumas organizações da sociedade civil nos posicionamos contra o aumento proposto pelos Vereadores para Prefeito, Secretários em Caruaru. Mas o que me moveu a escrever este texto, foi observar como a mediocridade de quem se diz politizado tenta diminuir o valor do movimento, e se arvora a dizer que o nosso movimento é despolitizado. Pois, bem, em nenhum momento nosso movimento questionou pareceres que mostravam a legalidade do reajuste proposto, nos referimos as questões de ética, moralidade, proporcionalidade e bom senso.

Então, temos assistidos os grandes representantes das utopias de esquerda envolvidos nas imensas maracutaias julgadas no STF e infelizmente é o retrato do poço de podridão que envolve as mais diversas ideologias e partidos, o mensalão não é propriedade de um partido só, mas tem mensalão dos grandes partidos deste país, que representam as mais diversas ideologias. E este é um momento político que deveria fazer com quem faz parte da direção política deste país refletir, sou militante de direitos humanos, e é nesse sentido que expressso minha relação com o mundio, se necessário, contra o partido e os políticos do meu partido.

Nesse sentido, em nenhum momento nos preocupamos com os impactos dos aumentos na folha de pagamento da câmara ou da prefeitura, em nossa “despolitização”, por que não somos cabos eleitorais de ninguém, afirmamos nossa posição e a reafirmamos aqui, na imoralidade de se construir índices de reajustes que extrapolam aqueles recebidos pelos trabalhadores deste país, em particular da Câmara Municipal de da Prefeitura de Caruaru. A questão aqui caros amigos é moral, passa pelos princípios e valores democráticos que defendemos e difundimos, em particular aquele que chamamos de Fraternidade Política. O que ofende a coletividade é uma ofensa a democracia, as relaçoes de alteridade, retira a legitimidade social. E o que vimos foi uma demonstração de descaso com o drama social que vivemos, ou mesmo o momento político que requer reflexão e bom senso dos políticos.

São estes despolitizados (nós), que vimos denunciando o clientelismo, o sistema de favor e tutela que envolve as relações políticas em nossa cidade, que transforma servidores, jovens, eleitores em massa de manobra de forma voluntária ou paga, e quando se encerram as eleições dividem novamente a cidade em dois ghuetos desarticulados dos problemas sociais, somos ainda nós os despolitizados que denunciamos as violações de direitos humanos, quando os politizados se calam em troca de cargos e salários, cooptando e comprando apoio. Estão mergulhados no sonho fantástico de que as oligarquias locais são o caminho para a solução dos problemas (seus talvez) não lhes dão muito espaço pois a burguesia só cede até onde lhe interessa.

Este movimento despolitizado, além desta questão vem apontando a necessidade de eleições para as escolas municipais que os politizados que nos acusam nunca se posicionaram, ainda denunciamos que eleição de escolas municipais comlista tríplice é um engodo, contra o qual nos levantaremos também. Isso significa trocar seis po meia dúzia, apenas uma forma de nas relações locais manterem o domínio de cabos eleitorais e vereadores nas escolas, além da manutenção da perseguição política. Realidade presente em todos os governos que podemos acompanhar na cidade.

Hannah Arendt nos falava de dois conceitos importantes: A incapacidade para pensar, quando as pessoas se tornavam ou tão apáticas, ou tão comprometidas com uma ideologia ou grupo de interesse que se tornavam incapazes de entender o movimento em seu entorno, e aqui insiro aqueles que nos chamam de despolitizados. Um outro conceito é sobre a banalidade do mal que ela aplica quando analisa a forma como as pessoas se comportam quando se deparam com condutas que deveriam ser rejeitadas por ferir a ética e os direitos humanos. O que tem haver com Caruaru? Tudo serve para os que acham a nossa luta menor, e se dizem defensores do povo, ai eu pergunto de qual povo neste momento? E serve para os vereadores que votaram e caso mantenham o seu voto pelos reajustes, pelo péssimo exemplo que oferecem ao povo, pois a manutenção do seu voto significa que pouco se importam, que são indiferentes a reprovação inclusive dos seus eleitores de sua conduta.

Assim queridos amigos, quero ser chamada de despolitizada, não me importa se consideram nossa luta menor, faço parte de um grupo de pessoas que não estão a venda, nem estão negociando princípios por cargos. Mas tenho o prazer de dizer que também não faço parte de um grupo de pessoas, que em nome de interesses privados, abrem mão de tudo pelo que lutaram no passado e não se posicionam nem quando uma mulher é ameaçada em uma programa de tv eleitoral e nem se posicionam quando um estudante é covardemente agredido na frente da imprensa.

Independente do resultado da votação da câmara, é na tensão entre a sociedade e o poder político organizado que se cria a tensão necessária para que se possa expressar opinião contrária, mas gostaria de encerrar este texto com uma frase do Livro: Morte e vida Severina de João Cabral de Melo Neto, em que o Sr. José Mestre Carpina diz a Severino quando ele se demonstra cansado de lutar. Ele diz: Severino retirante, muita diferença faz entre lutar com as mãos ou abandoná-las para trás. É nisso que consiste o movimento, apenas um movimento de pessoas que consideram que é possível estabelecer uma relação entre ética e política, mas o final desta história, este “despolitizado grupo” que não mama nas tetas do poder, estará lá, para acompanhar.

*Ana Maria de Barros é professora doutora e cientista política