Opinião – Um grande viva as famílias sem-teto de Caruaru – por Paulo Naílson*

Mário Flávio - 20.12.2014 às 09:43h

Esta semana foi histórica para centenas de famílias Sem-Teto de Pernambuco. Uma conquista iniciada em 2001, quando
surgiu o movimento através de muita luta, resistência e perseverança. Presenciei o início do movimento em nossa cidade em 2001, quando famílias foram expulsas com muita violência pela polícia, próximo do local onde hoje funciona o Hospital Regional. Tivemos vários companheiros e companheiras feridos e até presos, foi neste momento em que conheci o Reverendo Marcos, líder do movimento.

Depois presenciei a primeira ocupação na Vila Padre Inácio, em seguida a ocupações na Favela Girassol, Cedro e Alto do Moura. Implantamos várias discussões com as famílias sobre o Artigo 6 da Constituição onde constam vários direitos de cidadania.
Fiz bons amigos e amigas e vários destes tombaram na luta ou durante ela. Estivemos juntos em momentos de dor na perda de companheiros sem tetos ou de ação truculenta contra as famílias por parte de autoridades, em vigílias pela madrugada junto com as famílias para evitar despejos de surpresa, em marchas de celebração ou de protestos, em encontros e cursos de formação de militantes, em canções, abraços fraternos e sorrisos esperançosos, será por tudo isso um dia de gratidão e conquista, mas principalmente dia de erguer os olhos e contemplar o quanto ainda podemos juntos (Governos e autoridades Municipal, Estadual e Federal, Sociedade Civil Organizada e Imprensa) contabilizar diante da gritante situação de desigualdade Social avanços significativos que sinalizem para uma sociedade mais justa e humanitária.

A situação da moradia no Brasil ainda é mais preocupante do que se pode imaginar. Embora exista ultimamente gestos significativos de melhoria na situação habitacional, em geral os governos têm sido omissos ou pior, cúmplices da bárbara injustiça que sofre milhões de famílias empobrecidas nas cidades. As grandes metrópoles estão sendo tratadas como empresas. Por isso competem entre elas para ver qual atrai mais empreendimentos do capital. A especulação imobiliária devasta os municípios. Muitas áreas ocupadas pelos pobres há décadas agora passam a ser consideradas áreas de riscos, mas porque se tornaram áreas de ricos. O que mais ameaça os pobres não são os riscos geológicos, mas a especulação e os riscos sociais.

O imenso déficit habitacional aponta para sete milhões de famílias sem-casa no Brasil enquanto há cerca de sete milhões de imóveis ociosos e vazios. Movimentos e entidades (inclusive setores progressista eclesiástico) dão importante contribuição unindo, organizando e partindo para a luta coletiva. A experiência da ocupação Che Guevara, no Alto do Moura demonstra que quase cem famílias se libertaram da cruz do aluguel e da humilhação da vida de favor. Receberam suas casas, na luta, na raça, com garra e fé no Deus, que tal como creio, é solidário e libertador.

Aos ainda Sem Teto uma mensagem de não desanimar nunca da luta coletiva! Pois só perde quem não entra no coletivo ou quem desiste da lutar! Ainda temos muito chão a avançar e mais outro lote de casas já estão certos de serem entregues. Aos que já conseguiram moradia não parem de apoiar o Movimento. Cultivando a amizade, o companheirismo, pois há outros que precisam se engajar na luta e o fato de já conseguir sua casa não significa que já está tudo conquistado.

Muitas vezes em assembleias com as famílias alguns me perguntavam: “Será que conseguiremos um dia nossa casinha?” Eu reforçava: “Se permanecermos nos ajudando, aumentando e conscientizando o grupo sim”. Tal qual Hebe Bonafini (Madres de la Plaza de Mayo) afirmava: “A única luta que se perde é a que se abandona”. Então a continuidade é fundamental. Parabéns a todos companheiros e companheiras que acreditaram e marcharam firmes até esta conquista histórica e marcante.

Duclecier, Manuel, Alessandra e Maria do Socorro (in Memorian) e Salatiel Brandão (impossibilitado) Presente! Presente! Presente!

*Paulo Nailson escreve semanalmente no blog Política de AaZ. No Jornal de Caruaru tem a coluna Cultura e Cidadania e é responsável pelo blog presentiaonline. Atua na Cultura e no meio político.