Opinião – Um olhar para o tema da 17ª Parada do Orgulho LGBT de São Paulo – por Cleyton Feitosa

Mário Flávio - 24.01.2013 às 12:25h

Divulgado no último 21 de Janeiro no site oficial da Associação da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo (APOGLBT), o tema da 17ª edição tem como título “Para o Armário, Nunca Mais! – União e Conscientização na Luta Contra a Homofobia” e visa convocar governo e militância para o combate à homofobia e ao conservadorismo crescente no Brasil.

Também é possível perceber o anúncio das fragilidades do Movimento LGBT que, por vezes, tem se centrado mais nas divergências internas do que nas pautas caras à nossa população.
Os temas da maior Parada LGBT do mundo são sempre aguardados com ansiedade por aqueles/as que lutam por uma sociedade sem discriminação e violência homofóbicas, isto porque elas traduzem a atual conjuntura nacional do Movimento LGBT brasileiro, seja apontando pautas e reivindicações, seja focando na atual situação política pelo qual passa nosso movimento social.

Para esclarecer, no ano passado o tema foi o “Homofobia Tem Cura: Educação e Criminalização”, sinalizando a reivindicação por uma educação não-homofóbica, pela aprovação da criminalização da homofobia (assim como o racismo) e criticando o pensamento defendido por alguns de que é possível a cura gay, como se fôssemos doentes.

A ideia do armário trazida no tema deste ano apela para a resistência que todos/as nós LGBTs devemos ter no contemporâneo cenário de conservação social pelo qual setores e grupos reacionários tem protagonizado, sobretudo no Legislativo brasileiro, a fim de barrar qualquer tentativa de emancipação, qualquer tentativa de conquista de direitos, reconhecimento e legitimidade social, ferindo, desta forma, a igualdade e a cidadania que almejamos, possível nos regimes democráticos.

O armário ainda representa a prisão, o encarceramento social, a subcidadania e a subalternização pelo qual sujeitos LGBTs passam numa dada fase da vida, em geral na adolescência e na juventude, período em que os conflitos entre ficar e sair do armário ganham força e provocam fortes impactos subjetivos e emocionais, afinal de contas, não é fácil assumir-se para si e para os outros, desejos e modos de ser e estar no mundo divergentes de expectativas e padrões vigentes, hegemônicos, normalizadores, estruturais.

Com efeito, o armário também pode significar o momento histórico em que simplesmente não existíamos socialmente, não éramos organizados, não tínhamos visibilidade, tampouco nenhum tipo de reconhecimento social, que fora conquistado a partir da organização social e da abertura democrática do Brasil, possibilitando a igualdade (ainda que não plenamente) entre os diferentes segmentos sociais, incluindo as minorias. Esse momento para nós é a década de 70 pra trás. Nosso armário tem formas e períodos longos e as consequências de seu aprisionamento se arrastam até os dias atuais.

Neste sentido, o apelo do tema para a rejeição do armário simboliza e metaforiza diversas representações e significados para a população LGBT que agora afirma que não quer jamais voltar ao “móvel” e por isso deve combater todas as formas de opressão sexista, das mais sutis às mais intensas. Para tanto, devemos nos despir das nossas divergências ou pelo menos não deixar que elas sejam maiores que nossa luta contra a não-humanização recorrente de lésbicas, gays, bissexuais, travestis e transexuais neste país.

A Parada LGBT de São Paulo está prevista para o dia 02 de Junho e o tema fundamentará também as diversas atividades do mês do orgulho LGBT daquela cidade. Deve inspirar outras Paradas Brasil afora. Para um aprofundamento da discussão do armário e como ele opera na sociedade, sugiro a leitura do artigo “A Epistemologia do Armário” de Eve Kosofsky Sedgwick, professora da City University of New York.