Opinião – Uma gestão que se apresenta de uma maneira e age de outra – por John Silva*

Mário Flávio - 08.11.2014 às 18:30h

Não é novidade para ninguém, falo dos cidadãos de boa visão e ouvidos, não os que se fazem cegos e surdos propositalmente, com respeito a esses dois grupos que citei, mas, me desculpem a alusão, continuando o raciocínio, que em caruaru a gestão Queiroz, digo, essa sua segunda gestão é muito profissional no que tange a marketing e também maquiagem quanto à resolução de problemas graves da cidade, e temas como a participação da população em geral com os rumos da cidade, bem vou explicar porque entendo ser ela tão profissional na teoria, mas capenga na prática.

Primeiro, porque as obras nessa cidade nem mesmo são concluídas, mas já viram notícia na publicidade oficial, em alguns casos como já iniciadas e prontas, lembremos, de jornais recentes de campanha de um deputado de Caruaru, que já traziam imagens do Hospital da Criança construído, recordemos da “espetacularização do fato” outro termo do oficio do historiador que gosto muito, serve para descrever episódios, como o dia que a gestão encheu de gente (lideranças rurais, militantes-patrocinados, membros da gestão e populares) o Teatro João Lyra Filho, para anúncio de grande verba federal para asfaltar os acessos dos quatro distritos rurais da cidade, com a presença do ministro da Integração, na época Fernando Bezerra Coelho, há quase dois anos, e adivinhem, até o momento, não há um metro sequer asfaltado.

Segundo, pelo fatídico costume de a gestão se aproveitar de reuniões e encontros aonde a população vai entusiasmada e aberta fraternalmente, diria que esperançosa com melhoras, e unicamente ocupam espaços importantes mas é nas fotos da Prefeitura. Aliás, abram-se parênteses: o que existe por traz dessa lógica é a ideia de transmitir a população em geral, um “clima de otimismo” de como podemos observar no discurso dos que defendem o prefeito “estamos dialogando com a população em geral”, “a participação social tem sido marca dessa gestão”, em muitos casos essa estratégia de rechear, ou batizar a gestão, e as atividades realizadas pela prefeitura de “populares”, já que, como diria o grande estadista Lula “Nunca antes na História desse país” se debateu tanto a participação popular, nas muitas instâncias de poder, no quesito das decisões práticas. Portando revestir as gestões de “capital social”, está na moda.

Terceiro, criticar a gestão é sinônimo de ser membro do grupo oposicionista, falo de grupo chefiado, por outro politico da cidade que já foi prefeito, ou é pessimismo com a gestão vindo de quem não tem o que fazer, em alguns casos, textos como esse, que o eleitor lê, é oriundo de mentes perversas, que não quer que a cidade avance, ou de oportunistas, a velha estratégia de depreciar sorrateiramente a crítica, até mesmo aquela que se coloca de forma construtiva. Em último caso “gente sem moral para falar da gestão”. Neste enredo recorre-se ao “argumento ad hominem”, para quem não sabe o que é isso é o velho costume de sair pela tangente, digo não ser propositivo e apontar supostos problemas de ordem pessoal, da espera particular, enfim é uma falácia identificada quando alguém procura negar uma proposição com uma crítica ao seu autor e não ao seu conteúdo.

Quarto, e mais emblemático ponto existem ações e realizações elogiáveis da gestão em vários campos, mas produzidas a partir de uma lógica que versa entre beneficiar as camadas mais privilegiadas da população ou a interesses pessoais e empreendimentos privados, consequência da cultura administrativa da cidade. Ou seja, da maquina pública municipal inchada por cabos eleitorais, gente nomeada, cargos comissionados e contratados, basta lembrar que Caruaru tem o maior índice no interior de Pernambuco desses grupos que citei, cerca de 70%, enquanto fora daqui estão dando “isonomia” a maquina publica e sua atividade, bem como “autonomia” a secretarias, acabando com cargos comissionados, e o número gigantesco de contratações e se pautando pela meritocracia, corpo técnico e funcionários via concurso público, “o país de Caruaru” como diria Nelson Barbalho, segue a contramão do mundo externo; a “coisa publica” aqui é governada pelos pela elite politica, para os seus e pelos seus, lembremos que grande parte dos cargos estão nas mãos de “gente da família”. No entanto, digo mais uma vez existem ações e realizações elogiáveis como novo paisagismo, novos parques, requalificação de avenidas que custou 3 milhões e meio, requalificação do transito, ações de calçamento, reforma de escolas, mas na grande maioria, nas áreas nobres da cidade, no centro, e nas áreas tradicionais.

Face a isso a periferia da cidade e as áreas rurais estão entre trampos e barrancos, em muitos casos sem serviços básicos, como saneamento e calçamento, não sendo o caso de bairros como o Mauricio de Nassau, respeito a população de lá, acho êxito o fato de quase 80% de suas vias serem bem sinalizadas, com sinais, e asfaltadas, mas uma pena que na lógica administrativa a balança pese para os mais ricos, cito o exemplo da avenida João Soares de Lira que corta Panorama, Severino Afonso, Nova Caruaru e Baraúnas e não tem qualquer asfalto, e muito menos sinalização, ou lombadas.

Não vou me alongar mais, para não ficar cansativo, convido os amantes dessa cidade, os homens e mulheres de bom senso a dar uma volta pela cidade, e conferir o quanto se alastram os problemas socio-infraestruturais em Caruaru. Falei de quatro pontos, no primeiro, poderíamos citar outros casos de “obras virtuais”, como a tão prometida canalização dos riachos mocós e salgado, no segundo caso, o que mais se ver, por ai, lamentavelmente é que a participação social na cidade, em muitos casos só serve para “encher linguiça”, há muitos meses atrás levei pauta do Severino Afonso, onde moro para Secretaria de Infraestrutura e Obras, terminei levando “chá de cadeira” do antigo secretário, pena que o chá-vinhas não foi só a mim, mas há 7 mil cidadãos que moram no Afonsinho, o novo recebeu inclusive por oficio novo pedido de reunião para continuar o “dialogo”, meses se passaram nunca recebemos resposta, isso ilustra bem a danada da “participação” e “abertura” da gestão. O terceiro, não há mais o que falar, pois, o costume de depreciar os outros não é só de membros da gestão, mas até de supostos homens comprometidos com o debate politizado da cidade, haja vista, que recentemente aceitei missão de ajudar com meu trabalho propositivo o Conselho Municipal de Transito (COMUT), participando de chapa como 1º secretário, essa que se sagrou vitoriosa na consulta dos demais membros em reunião do último dia 04 de Novembro, e já sou para uns cidadãos um possível “cooptado” pelo sistema, bem Jesus não agradou a todos, imagina eu, aos que acompanham minhas atividades e vida, para esses basta saber que não tenho “rabo preso” com ninguém nessa cidade, sobrevivo da Educação, no oficio que mais sei fazer pesquisador e educador.

O quarto ponto, é seríssimo, muitos amigos meus, alguns companheiros, cidadãos que tem se comprometido com a cidade sentem na pele, episódios como encaminhar pautas a gestão de construção de uma praça em uma localidade fora do centro da cidade, e a gestão responder que passa por dificuldades financeiras, e não pode fazer, mas o que impressiona é você saber de bastidores que um empreendimento no município só foi feito, porque o empreendedor interpelou a gestão e como condição pediu que fosse construída uma praça próximo ao local, para “embelezar” a área.

Contudo, chamamos na historiografia casos como os descritos no segundo ponto de “falseamento da realidade”, podemos também usar o popular “vender gato por lebre”, esse também se enquadra perfeitamente, recorri a essa lógica e utilizei a palavra “capenga”, que tem como sinônimo “perneta”, para quem não sabe a palavra se refere a quem só possui uma perna, usei no título para dizer, o que de fato, é, essa gestão, pra mim “perneta”, só possui e caminha com uma das pernas, só olha os mais abastados, e as áreas nobres, e lamentavelmente esquece as populações menos favorecidas, e anda se arrastando através de publicidades, de “oba oba”. Essa cidade precisa de fato de uma gestão que olhe a cidade em sua totalidade, pense ela, a partir, das áreas menos favorecidas, da periféria, das áreas rurais, que nos ajudemos no sentido de que proximamente em 2016, a população em geral desperte-se a quebrar com paradigmas e tenhamos outra cultura política.

*John Silva – Professor, historiador, pesquisador mestrando vinculado a UFPE, militante político, é líder comunitário, preside a Associação de Moradores do Severino Afonso, e também foi membro do movimento estudantil da FAFICA, tendo presidido o C.A. de História Luzinete Lemos. Atualmente é 1° secretário no COMUT.