Otoni de Paula deveria ter assumido que sua aproximação com o governo Lula era uma decisão consciente, em vez de tentar se justificar ou amenizar as críticas. O deputado federal e pastor, que sempre foi um ferrenho defensor de Bolsonaro e chegou a afirmar que “receberia Lula na bala”, agora enfrenta uma onda de questionamentos após participar de um ato ao lado do presidente Lula e realizar uma oração em seu favor. Para muitos, essa mudança de postura parece contraditória com o discurso inflamado que ele sempre manteve, mas, ao invés de fugir das críticas, Otoni poderia ter abraçado sua nova postura política com mais transparência.
Recentemente, Otoni também concedeu uma entrevista em que afirmou que a igreja não pode tratar Bolsonaro como um “bezerro de ouro”, uma clara referência bíblica sobre falsos ídolos. Essa declaração soou como uma tentativa de suavizar o impacto da proximidade com Lula, quando, na verdade, seria mais eficaz admitir que suas prioridades políticas mudaram.
O apoio de Otoni ao prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, contra o candidato bolsonarista Alexandre Ramagem, foi um primeiro indicativo de que o pastor já estava se distanciando da base bolsonarista.
A saída de Otoni do grupo de WhatsApp da oposição nesta sexta-feira apenas reforça o desconforto que o pastor vem enfrentando com seus antigos aliados bolsonaristas. Talvez, se ele tivesse sido mais direto sobre sua aproximação com Lula, enfrentaria menos resistência e poderia argumentar de forma mais sólida sobre suas novas motivações.
O fato é que a política, assim como a religião, é feita de crenças e interesses em constante evolução. Negar ou tentar contornar esse movimento apenas aumenta a desconfiança e a sensação de incoerência entre seus apoiadores, que se sentem traídos por alguém que, até então, era um dos mais vocais críticos do governo Lula. Ao invés de resistir às críticas, ele deveria ter abraçado sua nova realidade política, enfrentando de frente as consequências de suas escolhas. A conferir.
