O deputado Fernando Ferro e a bancada do PT entrarão com ações contra o deputado federal Jair Bolsonaro(PP/RJ) por quebra do decoro parlamentar. Nesta terça-feira, Bolsonaro disse, em plenário, que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque “ela não merece”.
Abaixo a integra o discurso do deputado Fernando Ferro sobre esse assunto:
Senhor Presidente, eu até esperava que o bravo e violento Deputado Jair Bolsonaro ficasse aqui, porque tenho algumas coisas para dizer a ele.
Primeiro eu quero saudar a democracia, que é exatamente a conquista de amplos espaços de direitos, de fala e de opinião, que permite inclusive que o Deputado venha aqui praticar essas atrocidades e se colocar como alguém que poderia estuprar outro alguém. Foi isto que ele falou aqui: que a Deputada não merecia ser estuprada. Eu quero inclusive pedir cópia desse pronunciamento, porque vou tomar providências junto ao Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara.
Esse linguajar agressivo e violento é típico de uma pessoa desequilibrada, que está mais para uma paranoia. Ele insiste em amedrontar e ameaçar as pessoas com gritos, com descortesia, com deselegância, com falta de educação, pensando que esse tipo de coisa incomoda e amedronta.
Esse é o tipo de linguajar que a gente dizia no passado ser dos gorilas, aqueles militares fascistas que todos nós sabíamos que eram violentos e tinham o gosto de sangue na boca e a vontade de praticar violência. Esse linguajar dos gorilas militares está superado pela história.
É por isso que é importante nós mudarmos a formação nas escolas militares, dando-lhe, além de tratamento técnico e profissional, tratamento de urbanidade, de educação e de direitos humanos. É importante que se forme uma outra casta de militar e que esse tipo de gente feito o Deputado Jair Bolsonaro vá para a lata de lixo da história e seja esquecido como uma parte triste e lamentável da nossa história, que a Comissão da Verdade está ajudando a levar adiante.
Por que se incomoda tanto o Sr. Bolsonaro com a Comissão da Verdade? É porque ele tem culpa no cartório, tem o passado preso a isso. Quem não tem medo não teme. Quem é justo, quem não tem vergonha do seu passado não teme, não tem por que esconder o seu passado.
Nós estamos diante de um processo histórico de esclarecimento da memória cruel da ditadura, que matou, torturou, exilou, perseguiu, suprimiu liberdades neste País. Ela está sendo agora investigada como foi feito em outros países, para que a história do Brasil se encontre com um futuro que tem a ver com a dignidade, com a decência, com a democracia e com o aperfeiçoamento democrático que experimentamos aqui na América Latina.
Portanto nós temos que saudar a democracia e reconhecer que esse tipo de linguajar — chulo, rasteiro, truculento, violento, deselegante — faz parte da falta de educação e do despreparo que alguns têm para com o regime democrático. Acusar e agredir verbalmente, como foi feito, aparentemente mostra valentia. Mas é exatamente a valentia dos covardes, que podem fazer esse discurso aqui porque nós estamos numa democracia. Se fosse numa ditadura, ele não falaria desse jeito, ele estaria em outro canto.
Por isso nós compreendemos que esse destempero tenta passar essa ideia de coragem e de valentia que engana alguns por aí afora, que insinuam e recebem isso como se fosse demonstração de valentia. Isso é demonstração de fraqueza, de pobreza mental, de incapacidade psíquica inclusive para conviver com a diferença.
Saber respeitar o opositor e fazer crítica à opinião diferente deve ser natural da democracia. Agora, a grosseria, o achincalhe e o linguajar chulo, rasteiro e lamacento como esse são típicos dos desqualificados e despreparados para conviver com a democracia. São filhotes da ditadura que não esqueceram aqueles tempos e que têm saudade daquela história.
Essa história está superada, Deputado. Olhe para a frente! A história superou isso. Nós estamos num processo democrático de avanços de conquistas sociais. E esse seu linguajar pertence, lamentavelmente, à triste história dos períodos dramáticos da tortura, da tortura de Estado, dos assassinatos de Estado e da brava resistência da população civil, que se insubordinou e combateu, até os limites que pôde, a força e aquela truculência. Por isso devemos diferenciar: os torturadores, os assassinos da ditadura não podem ser comparados aos resistentes da democracia.